o que estou sentindo de verdade
verdade, a minha consciência
sou eu, ela me diz
e todo o resto deve calar

não por outro motivo
é impensável ter que reagir
ver-se na obrigação de tal ordem
política em si
aproximar a verdade
da cegueira dos teus olhos
que somente desejam
o impensável
mesmo quando a ordem
exprime a razão de ser
das entranhas de um sujeito
ordinário
ainda assim poderia ser diferente
veja, no entanto em que condição
o contrário se exprime

o obtuso da tua intolerância
nada tem haver com minha razão
de não reagir, por nenhum motivo que seja
pois o simples fato de teus pensamentos
tangerem para a insigne ordem
já é, para mim, motivo de tristeza
imagine eu ter que melar
minhas palavras com tal reputação
participar coisas que moram
na sua cabecinha tola

o silêncio para os poetas
é como o tempo para os anjos
tem infinita invalidez
em sua existência
simplesmente não existem
são pura abstrações
coisas ornamentais
de sentido terreno

pois a tua voz
há muito entrou em mim
inflou a minha consciência
do seu lodo de existir
e não me pergunte
mas, a última coisa
que faria era negar a sua existência
por mais soberba e ténue
que cheire as suas intenções
a minha educação
exige de mim
que não concorde
nem discorde
que toda diplomacia amaine
e todo perdão aconteça
antes mesmo de tua boca
manifestar a ironia
que teu coração deseja
a vontade de potência
que depende de mim
a sua verdade que depende de mim
a sua honestidade que depende de mim
a sua criatividade que depende de mim

antes ficaria grato
com um abandono
com um desprezo sincero
com uma atitude febril
do que ter que conviver
com tal educação
que só pertence aos sórdidos
e se é possível desprezar algo
escolho a sordidez de quem não consegue calar
de quem precisa falar
mesmo que para sua própria segurança
e não posso nem tocar naquele que deseja matar

se há algo a desprezar
desprezo com toda a minha arrogância
a todos que desejam provar
que o outro é capaz de matar
ou manifesta qualquer insegurança
tal assassino é o mais baixo dos morais
a sua moral é o que vale à contração de um ventre faminto
é um coitado, esse tipo deve ser enterrado
em sua própria criação

e de fato haverá outra ordem admirável
um instante depois do óbito
dessa ação

dou muita risada
amo a minha memória
no entanto
amo ainda mais o meu esquecimento
e o desprezo que venho a sentir
por mim mesmo
      
  

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Paulo Tiago dos Santos

Nascido em Vitória da Conquista, "carrega água na peneira" desde pequeno, de 1900 e... esqueci...

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