Pensei muito e nada adianta
toda subjetividade rasteja
nesse mundo de coisas escombrosas
de muitos itinerários
de vastidões e superfícies lineares
e neons, e prismas, e minerais
e continências, e reverências  
pensei demais        
  
Quando comecei a sentir
depois do desespero de perceber
que a menor das tormentas
é tão lenta, é a prensa do desejo
os anelantes orbitais
minha subjetividade saltou do mental
entrei num Z
e um grande sorriso saltou
a minha gargalhada de pura gargalhada
como um repuxão, uma coisa articulada
física, a tomada do gesto
o instante da dança
entrei num Z

Então, comecei a racionalizar
sob o lírico, os ambientes
e as passiveis formas de manifestar
o real:
a palavra antes de manifesta em ato
antes de fala
não é coisa, não é nada
mas, logo tornada, tudo pasma
torna-se plástica e a própria coisa move-se
e nossa complacência realiza o mundo.

A tal palavra pensada
antes de não haver, realizada
é coisa e não é nada
quer dizer, já foi escrita
foi calada, registrada, memorizada
falada, cantada, passada, ensinada, lida, viva
toda palavra usada se refulge de manifestar sentidos
em quem está vivo
e por conseguinte freqüentando-a, vibrando-a
à modulando no poema, à aliteração com os fonemas
e a irresponsabilidade das frases malas

por outro, o gesto
muito mais útil e significativo
tão pertinaz ao espírito
e mais prazeroso do que as palavras
sucumbi de sua imprecisão
de suas sutis definições
pois, é necessário escrevê-lo
e ele deixa de se tornar sensação
para ter sentido, para haver segundas intenções
para erguer-se à natureza do belo
do certo ou incerto
porém, toda forma, independente de sua tele
só pode existir a medida de sua convenção
seja orgânica, ou cultural
o que a diferencia, é certa subtilidade
de absorver-se pela mimese
e identificar-se às possíveis conexões
com determinados padrões
e outras e novas formas...

é como ver um cadáver...
e ter a boca molhada
ou virar a cara...

com efeito... pode-se não sentir nada...
e repetir infinitas vezes o gesto de morrer
na própria imaginação e ao olhar o cadáver
acessar os vermes que nele passeiam
e entrar em contato com que nele é vivo...

é preciso amar até os gestos dos vermes
quando se ama a vida
e suas passagens à toda forma

ah... então quando acordei
o Z me perguntou se haveria um biz
e eu sorri de sua poetagem...
o Z sempre será um zombeteiro...




                                              

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Paulo Tiago dos Santos

Nascido em Vitória da Conquista, "carrega água na peneira" desde pequeno, de 1900 e... esqueci...

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