Tenho um mar em mim
ele borbulha e rumoreja
e quando ventila, arpeja
numa longínqua onda
a minha água quando tomba

E sobre minha superfície
há gaivotas, nuvens,
azuis e temporais
mas, nenhuma sombra          

Um grande sol perpétuo
beira o tédio
e minha continuação
é banhar as margens
de mundos tão distantes

E meu abismo
são contidos peixes
cintilantes
a vagar na escuridão
sinonímia da paz
num ondular
onde pouquíssimos homens já tocaram 
correntes que chegam à todo lugar

mas, que nem esgueiram
nem vociferam
é feita de ancestrais
que somente contemplam
do outono à primavera

No meu mar há pescadores
homens bem afeitos
aos fortes ventos
e acostumados a nadar
pescam sonhos
como baleias
lançam suas redes
ao imperfeito
trazendo à superfície
somente cantos de sereias

De todo modo
o mar que há em mim
é cristalino e tão belo
que ao enxergar
os seus corais
de figuras seculares
feitas à violência do marear  
por fim, gracejam

Ainda, há ilhas
de toda ornamentação  
de pequenos matos
e grandes palmeiras
com sóbrias frutas
e cabanas feitas
pela última civilização
que acreditava nas estrelas

Um único farol
ilumina a vastidão do meu mar
e o homem lá em cima
tudo vê e tudo alcança
cada dia fica mais triste
em sua solidão esmerada
de silêncio e observância

Por vir à tona um sentimento
tão fino e fugaz
mas, com tanta recorrência
que um lodo tênue
começa a se formar
no coração do meu mar
em minha vazante de poeta
que aqui jaz
afogado no desespero
e no veneno dos mortais  

Pois, no inebrio do meu mar   
uma única lágrima
é o suficiente
para fazê-lo transbordar.
Mas ela custa entornar
pois meu choro está guardado
para meu último mergulho
meu último pensamento
para meu último canto
agora meu destino 
só pensa em querer amar





   
  

   

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Paulo Tiago dos Santos

Nascido em Vitória da Conquista, "carrega água na peneira" desde pequeno, de 1900 e... esqueci...

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